KWAME TURE SOBRE EXPLORAÇÃO E COLONIZAÇÃO


Nas três passagens que seguem, extraídas de algumas de suas falas - todas elas presentes em 'Stokely Fala...' - nosso irmão brilhantemente dá as diretrizes quanto as diferentes direções que devem tomar na luta por libertação os explorados em relação aos colonizados - em sua leitura, brancos e pretos, respetivamente. A saber, que a solução para seus problemas não são as mesmas, dado que a raiz do problema não o é - o que derruba qualquer argumento em prol de alguma 'integração', tais falas, bastante sucintas, aqui compiladas, consistem numa verdadeira aula, dada a precisão cirúrgica da análise dialético-materialista deste que é um dos maiores - senão o maior! - dentre os teóricos do Pan-Africanismo. É o que segue.
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"Agora vemos que os pretos nos Estados Unidos são um povo colonizado, que é diferenciado dos povos explorados. Os povos que são explorados são povos oprimidos, assim como os povos colonizados. Mas os povos explorados são oprimidos, principalmente, por razões econômicas. Os povos colonizados não são apenas explorados por causa da riqueza econômica, mas por sua cultura, seus valores, sua linguagem, despojados de todo o seu modo de vida e são forçados a se identificar com o opressor; e isso é muito importante, porque isso significa que, como dois grupos que são oprimidos, os explorados e os colonizados, devem, no entanto, se mover por caminhos diferentes. Por exemplo, é um fato que há pessoas brancas neste país que são exploradas – mas não são colonizadas. Elas podem ser despojadas de sua riqueza econômica, mas elas têm os mesmos valores, a mesma cultura, a mesma história e a mesma língua que seu opressor branco e rico. Mas, agora, vamos examinar os pretos neste país. Embora, também, estejam despojados da riqueza econômica e são pobres, também estamos despojados da nossa cultura, da nossa linguagem, da nossa história e do nosso próprio modo de vida. Isso, certamente, define a diferença entre os pobres brancos e os pretos neste país. E caracteriza em todo o mundo a diferença entre a colonização e a exploração. Nós nos atrevemos a dizer que a colonização entra em jogo quando há pessoas de uma raça diferente oprimindo uma outra raça."

"O Poder Preto não se destina apenas à exploração, mas ao problema da integridade cultural. A sociedade ocidental sempre entendeu a importância do idioma para a consciência e integridade cultural de um povo. Onde quer que o imperialismo tenha ido, ele impôs sua cultura pela força aos outros povos, forçando-os a adotar seu idioma e modo de vida. Quando os Africanos escravizados foram trazidos para este país, o anglo viu que se ele tirasse a língua dos Africanos, ele quebraria um dos laços que mantinham os pretos unidos e lutando. Os Africanos foram proibidos de falar uns com os outros em sua própria língua. Se eles fossem encontrados fazendo isso – eles seriam brutalmente espancados. Em Porto Rico, onde a imposição cultural ianque está no seu auge, o inglês é ensinado em todas as escolas do Ensino Médio por três anos enquanto que o espanhol é ensinado por apenas dois anos.
A sociedade anglo aprendeu outras lições valiosas na escravização dos Africanos neste país. Se você separar a família de um homem, como foi feito aos escravos, você novamente enfraquece a sua resistência. Mas leve a separação ainda mais longe. Pegue alguns dos escravos mais fracos e trate-os como animais de estimação domésticos – o escravo de pele mais clara, a prole do estupro do senhor sobre a mulher Africana, foi o preferido. Dê-lhes as migalhas da mesa do senhorio e dê-lhe roupas; logo ele temerá por perder esses pequenos confortos. Em seguida, use seus medos, faça com que ele relate as atividades dos escravos ruins, relate as iminentes revoltas e rebeliões. Crie desconfiança e dissenso entre os Africanos e eles vão lutar entre eles em vez de se unirem para lutar contra os seus opressores."
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"O Poder Preto ataca essa lavagem cerebral dizendo: "Nós nos definiremos!". Não vamos mais aceitar a definição do homem branco de nós mesmos como feios, ignorantes e sem cultura. Nós reconheceremos nossa própria beleza e nossa própria cultura, e não nos envergonharemos de nós mesmos, pois um povo com vergonha de si mesmo não pode ser livre.
Porque nossa cor tem sido usada como uma arma para nos oprimir, devemos usar nossa cor como uma arma de libertação, assim como outras pessoas usam sua nacionalidade como uma arma para sua libertação. O Poder Preto reconhece que somos condicionados para nos sentirmos inferiores, para que possamos ser mais facilmente explorados. Mas, mesmo que destruíssemos o racismo, não destruiríamos necessariamente a exploração. E se destruíssemos a exploração, não acabaríamos necessariamente com o racismo. Ambos devem ser destruídos. Devemos, constantemente, manter nossos olhos em ambos os chifres do touro."
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